Síndrome de Burnout
A Síndrome de Burnout é um distúrbio psíquico caracterizado pelo estado de tensão emocional e estresse provocados por condições de trabalho desgastantes. O termo Burnout foi criado pelo psicólogo alemão Herbert Freudenberger, sendo que, ele mesmo foi vítima do problema. O Burnout se tornou uma constante nos últimos tempos, devido ao aumento da pressão e da exigência sobre os trabalhadores. Eles precisam saber lidar com novas tecnologias, cada vez mais dinâmicas, prazos curtos e cada vez menores, recursos escassos e precarização do trabalho e tantas outras situações muito estressoras.
No Burnout existe uma situação de grande desequilíbrio entre o tempo despendido com o trabalho - que está drenando toda a energia do indivíduo - e o tempo que poderia ser usado para situações que ajudariam a recuperar esta energia perdida, como atividades físicas e de lazer, pausas e descansos, momentos com a família e encontros sociais.
O Burnout é descrito na literatura médica desde a década de 1970. Nessa época as pesquisas sobre Burnout tinham como foco as ocupações onde a característica principal do trabalho era o contato direto com outras pessoas, como nos cuidados de saúde, no assistencialismo e da educação. Hoje sabemos que os estressores que levam ao Burnout podem estar presentes em qualquer local de trabalho, caracterizando elevados níveis de exaustão emocional, sensação de falta de sentido na função exercida e sentimento de ineficiência no trabalho.
A definição de Burnout na CID-11 é:
"Burnout é uma síndrome conceituada como resultante do estresse crônico no local de trabalho que não foi gerenciado com sucesso.É caracterizada por três dimensões:
- sentimentos de exaustão ou esgotamento de energia;
- aumento do distanciamento mental do próprio trabalho, ou sentimentos de negativismo ou cinismo relacionados ao próprio trabalho; e
- redução da eficácia profissional."
A relação homem-trabalho se dá dentro de um componente subjetivo que confere um papel social importante na representatividade do trabalhador. Da mesma forma como o trabalho insere o indivíduo no mundo das relações sociais, também o colocam na condição de exploração e alienação. No entanto, o trabalho deveria ser concebido como uma experiência de convivência respeitosa, compromissada, sadia e que contribuísse para a qualidade de vida, uma vez que o trabalho como formador da identidade do indivíduo, caracteriza seu ser.
É sabido que o trabalho pode provocar motivação e satisfação de acordo com as condições e o ambiente laboral. No entanto, a partir do momento em que este indivíduo é inserido no contexto organizacional ele fica sujeito a inúmeras variáveis que afetam direta ou indiretamente seu trabalho.É neste momento que se torna necessário um olhar para a saúde do trabalhador e os processos de saúde-doença, pois é a partir do desajuste nesta relação que se tem como resultado consequências graves e muitas vezes irreparáveis para a saúde e o bem-estar físico e psicológico do trabalhador. O número de adoecimentos relacionados ao trabalho tem aumentado a passos largos e o estresse e seus estados crônicos têm colocado os trabalhadores em um processo de esgotamento físico, caracterizando o Burnout. Ao considerar a qualidade de vida no trabalho, é preciso envolver os aspectos biopsicossociais do indivíduo e da organização, envolvendo tanto o aspecto preventivo quanto o tratamento, pois relações de trabalho doentes, adoecem o trabalhador.
Alguns sinais do Burnout são:
Desinteresse pelo trabalho, falta de concentração crônica, lapsos de memória, irritabilidade, insônia, fadiga, desânimo e dores pelo corpo. Um dos grandes causadores da Síndrome de Burnout nas organizações é o Assédio Moral. Assédio moral é a exposição de alguém a situações humilhantes e constrangedoras, repetitivas e prolongadas. Geralmente, tal expressão se refere a atos ocorridos durante a jornada de trabalho e no exercício de suas funções. São mais comuns em relações hierárquicas autoritárias e assimétricas, em que predominam condutas negativas, relações desumanas e antiéticas de longa duração, de um ou mais chefes dirigida a um ou mais subordinado(s), desestabilizando a relação da vítima, em grande parte mulheres, com o ambiente de trabalho e a organização. Essa conduta abusiva, em razão de sua repetição ou sistematização, atenta contra a personalidade, dignidade ou integridade psíquica ou física de uma pessoa, ameaçando seu emprego ou degradando o ambiente de trabalho.
O assédio moral não é uma doença, mas um risco invisível no ambiente de trabalho. Abordado em pesquisas sobre saúde mental e ambiente ocupacional desde os anos 1970, ele é analisado e difundido por estudiosos de renome que, entre outras coisas, mostram como o mal-estar no trabalho prejudica a saúde em geral, elevando o risco de doenças físicas e psíquicas.
A sensação de desconforto e as dificuldades de relacionamento em nível profissional e pessoal levam as vítimas de assédio a quadros de depressão e até mesmo suicídio.É um problema que não se restringe a um gênero ou idade, mas dados comprovam que as mulheres são as principais vítimas, sobretudo em países com maior disparidade nas oportunidades de emprego. Infelizmente, muitas pessoas não contam com uma rede de apoio (amigos, familiares e colegas) que possa contribuir para evitar desfechos mais trágicos.
Desde 2001, existem projetos no Congresso Nacional com o objetivo de normatizar o assédio moral e, em março de 2019, a Câmara aprovou o projeto de Lei 4742/01 com a finalidade de tipificar no Código Penal o crime de assédio moral no ambiente de trabalho.
O assédio moral pode contribuir para o desenvolvimento do Burnout, porém, é importante esclarecer que o Burnout pode se manifestar com ou sem assédio moral. Entre os profissionais que mais sofrem da síndrome de Burnout estão aqueles que desempenham alguma função laboral atrelada ao atendimento de saúde, tais como médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, fisioterapeutas e psicólogos. O segundo grupo de profissionais mais atingidos pela síndrome de Burnout são aqueles que trabalham em serviços educacionais, ou seja, os professores e educadores. Em seguida vêm os trabalhadores de teleatendimento, bancários, advogados, policiais, assistentes sociais, vigilantes e trabalhadores do sistema funerário. Eles enfrentam altíssimos níveis de estresse e de sobrecarga de trabalho, uma realidade ainda mais piorada em função dos crescentes e por vezes frequentes casos de assédio moral.
A Síndrome de Burnout advém prioritariamente, do modo de gestão do trabalho, caracterizado por pouca ou nenhuma autonomia, sobrecarga de tarefas e insegurança em relação a estas, instabilidade no emprego, sentimento de desmoralização no ambiente de trabalho, sentimento de injustiça, um controle quantitativo e qualitativo do trabalho, a falta de suporte da chefia e dos colegas. Já o assédio moral vem como uma ferramenta de gestão baseada em pressões abusivas, cobrança extrema e exaustiva, que esgota as possibilidades do trabalhador, levando a um enorme desgaste. Esse processo todo leva o trabalhador a uma condição de desestruturação mental e emocional vinculada ao seu ambiente de trabalho de tal maneira que ele não se reconhece mais naquela atividade e já não sente mais satisfação em realizar aquilo. Ocorre uma espécie de despersonalização e desvinculação do próprio trabalho, que antes trazia satisfação e fazia sentido na vida dele e agora não faz mais e ele busca evitar esse lugar, essas pessoas, enfim, o local de trabalho.
Como prevenir e combater o Burnout?
Mais do que nunca a prevenção deve estar presente quando se fala sobre saúde mental. O primeiro passo para isso é reconhecer o problema. Se o trabalhador chegou ao ponto de esgotamento, ele precisa reconhecer a necessidade de buscar ajuda profissional e de acolhimento. Fale sobre como está se sentindo com as pessoas próximas, sejam amigos, familiares ou mesmo colegas de trabalho. Dividir esses sentimentos é um passo importante para que as pessoas compreendam que você está vivendo este momento delicado e precisa de todo o apoio necessário.
Na medida do possível, busque equacionar suas atividades e se for da chefia, delegue tarefas quando necessário.
Mude seu estilo de vida. Cuidar da alimentação, do sono e praticar atividade física é fundamental. Um corpo cansado é mais suscetível às cargas de trabalho e ao desgaste do trabalhador. Cuide da sua vida fora do trabalho, encontrando atividades que sejam prazerosas e ajudem a recarregar suas energias.